segunda-feira, 21 de abril de 2014

Avarias

"Ah! Eu que pensava estar a dar-lhe tanto! E ele a mim... E esse dar e receber parecia tão certo! Não em termos de coisa calculada, não no calcular do que seria bom para as pessoas que éramos antes, para a nova pessoa, nós. Se pudesse sentir como dantes, mesmo agora tudo me parecia certo. Mas foi então que descobri que éramos apenas uns estranhos (...) Será que só podemos amar o que é criado pela nossa imaginação? Seremos todos nós, de facto, não amantes nem amáveis? Se assim é, cada um de nós é um ser sozinho e então tão irreal é o que ama como o amado, e quem sonha não é mais real do que os seus sonhos."

("- Que lhe parece ele agora?")

"Uma criança a divagar por uma floresta adiante, a brincar com um companheiro imaginário, e que de repente descobre que é apenas uma criança sozinha, perdida numa floresta, e que quer ir para casa. (...) Mas mesmo que encontre o meu caminho para sair da floresta, ficarei com a inconsolável lembrança do tesouro que fui procurar à floresta, sem o ter conseguido nunca encontrar, pois não estava lá, e talvez nem se quer esteja em parte alguma; porque hei-de sentir-me culpada de o não ter descoberto? (...) O que aconteceu é sempre recordado como um sonho em que nos exaltamos pela intensidade de amar em espírito, numa vibração de deleite sem desejo, pois o desejo é saciado pelo deleite de amar. É um estado que não conhecemos, quando acordados. Mas aquilo ou quem eu amei ou em mim estava amando, não o sei. E se nada disso significa qualquer coisa, quero ser curada desta ansiedade por algo que não posso encontrar, e que me curem da vergonha de nunca o encontrar."

[t.s. eliot]

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