sábado, 27 de junho de 2015

Indicando direcções


Acordei também com os pássaros
E estudei a posição em que os bordava
Nos seus vestidos
E disse: para que lhes espetas a agulha no coração
E ela respondeu: para que aprendam a direcção do voo

[Daniel Faria]

Uma tatuagem: a primavera desponta através dos gestos mais pequenos




[Hilma af Klint]

O importante é que a tristeza não nos coma por inteiro



                                Mas só uma ou duas porções, para que não sejamos totalmente distorcidos.




[David Milne]



quinta-feira, 25 de junho de 2015

Um erro


São um erro,
estes braços e pernas
que já não funcionam
Quebraram-se agora
e não há lugar para desculpas.
A terra não nos consola,
só te cobre
se tens a decência de permanecer calado.
O sol não perdoa,
olha e segue o seu caminho.
A noite penetra-nos
através dos acidentes que temos
infligido um ao outro.
A próxima vez que perpetremos
o amor, temos que
decidir primeiro quem vamos matar.

[Margaret Atwood]

Coração, a palavra mais gasta da minha língua




Como música ou como um astro



[Sónia Baptista]

Uma justificação


Há uma rebelião salutar naquilo que desejamos, por mais medo ou incêndios que nasçam por entre as unhas. Possivelmente só mais tarde aparecerá o arrependimento. Mas enquanto estamos a salvo, um tanto ou quanto sem sentidos, sem metas, sem restrições, ah enquanto isso podemos ir sendo o que bem entendermos.

Hoje recolho algumas lágrimas, ah mas com que pele as hei-de salvar?




[Henri Matisse]

Um homem crescido


A todos disse adeus. Desde a minha infância
fez-me homem, lentamente, a despedida.
Mas persisto em voltar, quero recomeçar,
este regresso nítido liberta-me o olhar.
Só me resta dar-lhe plenitude,
e essa minha alegria que nunca aprendeu
por ter amado as coisas quase parecidas
com essa ausência que nos faz agir.

[Rainer Maria Rilke]

Ternuras ou uma confissão sem pressas


Retomo um perfume antigo e alguém me diz "Hoje estás mesmo a cheirar a quando te conheci..."
Quem nos decora o cheiro certamente amar-nos-á.

domingo, 14 de junho de 2015

Com o indicador e o polegar esmaguei as flores, já não há altura possível


noutro leito nas nuvens deito os teus cabelos, o teu cansaço e a
minha miséria, os teus braços e os meus, altos como
cidades, altos como flores

[mário cesariny]