quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Até amanhã


O que eu gostaria de fazer é um livro sobre nada.
Foi o que escreveu Flaubert a uma sua amiga em 1852.
Li nas Cartas Exemplares organizadas por Duda Machado.
Ali se vê que o nada de Flaubert não seria o nada existencial, o nada metafísico.
Ele queria o livro que não tem quase tema e se sustente só pelo estilo.
Mas o nada do meu livro é nada mesmo.
É coisa nenhuma por escrito: um alarme para o silêncio, um abridor de amanhecer, pessoa apropriada para pedras, o parafuso de veludo, etc. etc.
O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras.
Fazer coisas desúteis.
O nada mesmo.
Tudo que use o abandono por dentro e por fora.

[Manoel de Barros]

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